A Produção de carne
Mundo
A evolução da produção mundial total de carnes bovina e de vitelo pode ser observada na Tabela 1. A produção cresceu significativamente entre 1995 e 2006, saltando de 48,5 milhões para 53,8 milhões de toneladas equivalente-carcaça. Os dados da tabela apresentam a produção de carne bovina e de vitelo dos maiores produtores mundiais. Estados Unidos, Brasil e China figuram como os três maiores países produtores individuais, embora os maiores rebanhos pertençam ao Brasil, Índia e China, nessa ordem. Verifica-se que os maiores rebanhos, por si só, não caracterizam o melhor desempenho em produção de carne bovina. Apenas sete dos dez países que possuem os maiores rebanhos estão entre os dez maiores produtores de carne em 2005. Os Estados Unidos, por exemplo, que são detentores do quarto rebanho mundial, apresenta-se com a classificação de maior produtor de carne do mundo.
A Tabela 2 apresenta a evolução do consumo de carnes bovina e de vitelo nos principais países consumidores. Observa-se expansão do consumo no mundo, com destaque para as posições dos Estados Unidos, EU-25, China e Brasil como maiores mercados. Esses países foram responsáveis, em 2006, por 68,5% do consumo mundial de carnes bovina e de vitelo. No entanto, não se pode desprezar a importância de consumidores “menores”, como Rússia, Japão, Canadá e o conjunto de países que integram o grupo de “outros”, cujos mercados apresentam considerável potencial de crescimento. A Rússia, em 1995, consumia quase 50% mais carne que em 2006, patamar que deve ser retomado à medida que a economia consolide a estabilidade e o crescimento registrados no período mais recente.
O consumo na China vem aumentando de forma sistemática. Esse aumento é o resultado do crescimento econômico do país (o aumento da renda da população tende a impulsionar a substituição de proteínas de origem vegetal por aquelas de origem animal) e de mudanças nos hábitos de consumo. Esse movimento pode transformar a China em um mercado cada vez mais importante para os produtos derivados da carne bovina.
Brasil
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), o rebanho bovino brasileiro tinha, em 2005, 207,2 milhões de cabeças.
A análise conjunta dos dados totais sobre rebanho bovino de corte e dos dados de evolução por estado, fornecidos pelo IBGE (2005), mostra um aumento contínuo do rebanho nacional desde 1996. Devem-se destacar algumas mudanças na evolução da produção por Estados.
A partir de 2003, alguns dos estados mais tradicionais e importantes no cenário da produção pecuária enfrentaram praticamente uma estagnação no número de animais (Paraná e Goiás, por exemplo), ao passo que outros viram o seu rebanho diminuir nesse período. Esse é o caso dos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais.
A redução do rebanho bovino de corte em alguns estados produtores, como o Mato Grosso do Sul, resulta tanto do abate excessivo, que alimentou as exportações no período, quanto do aumento da migração, em razão do alto custo da terra e à conversão para outras opções de uso de maior rentabilidade. O início dessa migração remonta aos anos 1960. As terras mais baratas do Centro-Oeste atraíram uma grande quantidade de pecuaristas dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Admite-se que os Estados do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo tiveram seus efetivos reduzidos basicamente em decorrência do aumento do abate, acompanhando também a migração dos abatedouros em direção à fronteira agrícola e às necessidades de capitalização dos produtores. O fato é que está em curso uma nova mudança na “geografia do boi”, já que a fronteira da produção pecuária tem-se deslocado para a Região Centro- Oeste e, mais recentemente, para a Região Norte. Em 2004, essa região possuía o maior rebanho, representando cerca de 40% do total nacional. O Mato Grosso detém hoje a maior participação no total da produção brasileira, alcançando aproximadamente 13% em 2005. Vale ressaltar o crescimento da pecuária na Região Norte, que ocupa hoje o segundo lugar no ranking da produção pecuária nacional, com destaque para o crescimento do rebanho do estado do Pará.
O Fórum Nacional de Pecuária de Corte (FNPC) também faz estimativas acerca do tamanho do rebanho bovino brasileiro de corte conforme a Tabela 3. De acordo com essa fonte, em 2005 havia 196 milhões de cabeças no País.
Apesar de sérios obstáculos internos que precisam ser superados, a conjuntura externa apresenta-se muito favorável ao aumento das exportações brasileiras, principalmente com as mudanças tecnológicas que vêm sendo implementadas na pecuária de corte e na indústria frigorífica nacional.
Na pecuária, tem se difundido o uso da inseminação artificial nos últimos cinco anos (USDA, 2005). O uso do confinamento para engorda também tem se ampliado. Em 2004, os 50 maiores confinamentos do País receberam cerca de 670 mil animais. Isso significou um crescimento de 26,95% sobre o total de animais confinados nesse sistema de produção (BEEFPOINT, 2005a). De acordo com Cervieri (2005), “a terminação de bovinos confinados representou, em 2004, cerca de 5% do total de animais abatidos, ou 1,9 milhão de animais. Nesse cenário, o número de grandes confinamentos que produzem em escala ainda é reduzido, mas tende a crescer ano a ano. Existe uma forte tendência de que as grandes indústrias frigoríficas terminem animais em confinamentos próprios, e alguns projetos abrangem a engorda de 100 mil cabeças durante o ano todo”.
Na indústria frigorífica também estão se difundindo ferramentas de gestão e tecnologias que levam a um melhor desempenho na produção, bem como práticas que permitem melhorar o controle sanitário e ambiental.
Outros aspectos, não negligenciáveis, para a competitividade da pecuária brasileira são: a vantagem competitiva proporcionada pelos baixos custos de mão-de-obra, a terra relativamente barata e a abundância de fontes de alimentação animal (F&A Research and Advisory, 2005). De acordo com o Foreign Agricultural Service (FAS/USDA) “A crescente dominação do mercado mundial de carne bovina pelo Brasil não é um fenômeno de curto prazo. Investimentos em gado e na indústria da carne permanecem fortes à medida que o Brasil mantém seu foco orientado para as exportações. Em 2001, somente 11% da produção de carne bovina brasileira era exportada. Em 2006, prevê-se que essa participação suba para 21% (para 1,8 milhão de toneladas). Há ainda espaço para crescimento de produção e exportação. Por exemplo, a maior parte do gado brasileiro é de raças tradicionais, com uma parcela sendo melhorada por cruzamento de raças” (USDA, 2005).
Quanto aos obstáculos a serem vencidos, destacam-se: a superação das barreiras sanitárias; o desenvolvimento de um padrão de qualidade e seu reconhecimento pelo mercado importador; a constituição de uma cadeia melhor coordenada; a superação de limitantes de exportação tais como quotas, tarifas e concorrência subsidiada e a colocação de produtos de maior valor.
Rio Grande do Sul
A região sul do Brasil tem, na pecuária, uma tradição que teve início com a colonização do Brasil, onde os campos naturais ofereceram o suporte para o desenvolvimento desta atividade, em especial no RS.
A pecuária, no subtrópico brasileiro até 1950 era praticada, quase que na sua totalidade, nas áreas de campos naturais. Foi este recurso que permitiu o ingresso das primeiras cabeças de bovinos nessa região, através do Padre jesuíta Cristóvão de Mendoza que, em 1634, conduziu, desde as estâncias paraguaias, uma tropa de 1500 cabeças, originárias do rebanho pioneiro da Capitania de São Vicente, negociadas ao Paraguai em 1634. Essa tropa foi distribuída pelas diferentes missões jesuíticas com a finalidade de alimentar os milhares de índios aldeados nas reduções, tendo-se dispersado em grande número pela região, após as investidas dos bandeirantes paulistas contra as reduções, e constituindo-se na base inicial do rebanho bovino da região sul do país.
No decorrer dos séculos, o rebanho bovino cresceu com a filosofia do pastoralismo, dominando o cenário, o que ainda persiste nos dias atuais. O rebanho ovino, aos poucos, foi-se incorporando à paisagem, sendo registrado pelas estatísticas do RS um rebanho de 17.471 cabeças no ano de 1797. Principalmente nos campos naturais do RS é comum a criação associada de ovinos e bovinos, e sem dúvida é um condicionante da vegetação natural, hoje presente nessas áreas. A criação de bovinos em ambiente totalmente diferenciado, por sua excelente oferta de alimentação natural, num ecossistema totalmente preservado, onde a tradição, história e cultura do povo gaúcho imperam, fez a região ser reconhecida no Brasil e no mundo pela produção de bovinos, de carne e seus derivados, moldados em uma história secular.
A cadeia produtiva da bovinocultura gaúcha envolve, aproximadamente, 200 a 220 mil propriedades rurais, 24 indústrias frigoríficas sob a inspeção federal e 184 sob a inspeção estadual.
Em relação às plantas de abate de bovinos, consta que 62% delas se localizam na metade Sul do estado, principalmente nas regiões da Campanha, fronteira Oeste e Sul.
As raças bovinas mais criadas no estado são as raças europeias, como Angus e Hereford, com a presença também de raças sintéticas, como Brangus e Braford.
O estado do Rio Grande do Sul apresenta uma forte tradição à produção de bovinos em pasto natural, contando com cerca de 90% deste. A pecuária gaúcha fornece uma alimentação à base de pasto em campos nativos e melhorados ou de pastagens cultivadas; sendo que a suplementação principal, em sistemas de confinamento ou de semiconfinamento (na produção de novilhos precoces), é formada por grãos (farelos, resíduos e subprodutos) excedentes da produção agrícola e por volumosos, como silagens e feno, aliando-se a isso a complementação mineral necessária.
Com relação à extensão dos estabelecimentos agropecuários, é indicado no mínimo 100 ha para produtores especializados na engorda e terminação, sendo estes totalmente dependentes de fornecedores de bezerros e de área mecanizável para produção de volumosos (silagens e feno), para a alimentação dos animais. À medida que a área aumenta, o produtor torna-se menos dependente de fornecedores de bezerros, participando, assim, de atividades pecuárias ligadas à cria e à recria.