Unidade C – Propriedades físicas e ensaios com agregados miúdos

Introdução

Conhecer as propriedades e características de um agregado é de grande importância para definir os usos mais adequados que se pode fazer dele. Grande parte das características de um agregado é determinada por meio de análises, ensaios e experimentos descritos em normas técnicas. No Brasil, a entidade normatizadora de grande parte desses ensaios é a ABNT - Asociação Brasileira de Normas Técnicas. No âmbito internacional existem outros órgãos normatizadores como a ISO International Organization for Standardizations), a ASTM (American Standard Association) e o ACI (American Concrete Institute) que fornecem subsídios quando não há normas nacionais sobre determinado assunto.

A seguir são apresentadas as principais propriedades físicas e índices de qualidade dos agregados míudos, dos quais a maioria são avaliados por meio de ensaios previstos em normas técnicas.

Granulometria

A granulometria é uma propriedade que reflete a distribuição dos tamanhos dos grãos de um agregado, ou seja, determinam-se as porcentagens de uma amostra que pertence a uma determinada faixa granulométrica, de acordo com o tamanho dos grãos.  A distribuição granulométrica é determinada por meio de um ensaio descrito na NBR 7217, que consiste no peneiramento de uma amostra de material cuja massa mínima é expressa na tabela abaixo, em função da dimensão máxima do agregado a ser peneirado.

Dimensão Máxima característica do agregado (mm)

Massa mínima de amostra para o ensaio (kg)

Menor que 4,8

0,5

6,3

3,0

Entre 9,5 e 25

5,0

Entre 32 e 38

10,0

50

20,0

Entre 64 e 76

30,0

O peneiramento da amostra é realizado com o uso de peneiras padronizadas pela ABNT, sendo que o conjunto de peneiras é composto por duas séries: a série normal e a série intermediária. As aberturas das peneiras de cada série são apresentadas na tabela abaixo:

SÉRIE NORMAL

SÉRIE INTERMEDIÁRIA

ABNT 76 mm

-

-

ABNT 64 mm

-

ABNT 50 mm

ABNT 38 mm

-

-

ABNT 32 mm

-

ABNT 25 mm

ABNT 19 mm

-

-

ABNT 12,5 mm

ABNT 9,5 mm

-

-

ABNT 6,3 mm

ABNT 4,8 mm

-

ABNT 2,4 mm

-

ABNT 1,2 mm

-

ABNT 0,6 mm

-

ABNT 0,30 mm

-

ABNT 0,15 mm

-

Em resumo, o ensaio de peneiramento para determinação da composição granulométrica consiste nos seguintes procedimentos:

  1. Secar duas amostras do agregado a ser analisado em estufa (105 – 110)ºC, esfriar à temperatura ambiente e determinar suas massas (M1 e M2). Tomar a amostra (M1) e reservar a outra (M2).
  2. Colocar a amostra (M1) ou porções dela sobre a peneira superior do conjunto Promover a agitação mecânica do conjunto por um tempo razoável, para permitir a separação e classificação prévia dos diferentes tamanhos de grão da amostra.
  3. Remover o material retido em cada peneira para bandejas identificadas. Escovar a tela em ambos os lados para limpar a peneira.
  4. Determinar a massa total de material retido em cada uma das peneiras e no fundo do conjunto. O somatório de todas as massas não deve diferir mais de 0,3 % da massa seca da amostra, inicialmente introduzida no conjunto de peneiras.
  5.  Proceder ao peneiramento da amostra (M2), seguindo o mesmo procedimento.
  6.  Para cada uma das amostras de ensaio, calcular a porcentagem retida, em massa, em cada peneira, com aproximação de 0,1 %.
  7.  Calcular as porcentagens médias retidas e acumuladas, em cada peneira, com aproximação de 1%.

As tabelas a seguir mostram um exemplo do cálculo de granulometria. Em primeiro lugar, a planilha é preenchida com a quantidade de amostra em massa que ficou retida em cada peneira, para as duas determinações (sequências de peneiramento). A soma dos pesos retidos em cada peneira deve ser mais próxima possível do peso da amostra colocada inicialmente no peneirador, lembrando que a divergência entre valores não pode ser superior a 0,3%.

COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR 7217

Peneiras

1ª Determinação

2ª Determinação

% Retida Média

% Retida Acumulada

mm

Peso Retido (g)

% Retida

Peso Retido (g)

% Retida

3/8"

9,5

0

 

0

 

 

 

 

1/4"

6,3

0

 

0

 

 

 

 

4

4,8

9,6

 

8,4

 

 

 

 

8

2,4

16,6

 

15,1

 

 

 

 

16

1,2

31,7

 

28,9

 

 

 

 

30

0,6

132,8

 

147,7

 

 

 

 

50

0,3

234,1

 

242,9

 

 

 

 

100

0,15

79,4

 

63,4

 

 

 

 

Fundo

<0,15

23,6

 

18,4

 

 

 

 

TOTAL

 527,8

 

 524,8

 

 

 

 

Observa-se que as peneiras podem ser designadas por um número, conforme a primeira coluna da tabela, ou pela abertura da malha em milímetros, conforme a segunda coluna da tabela.

A seguir, calcula-se a porcentagem que o peso do material retido em cada peneira representa em relação ao peso total da amostra. O cálculo dessa porcentagem é feito dividindo-se o peso que ficou retido em cada peneira pelo peso total da amostra. O valor resultante é multiplicado por 100 para transformar em porcentagem. Para exemplificar, faremos o cálculo para as quantidades retidas na peneira 4,8

No peneiramento da primeira amostra (primeira determinação) temos 9,6 g de material retidos na peneira 4,8 mm. Dividindo 9,6 g pelo peso total da amostra, que é 527,8 g, temos 0,018 e multiplicando esse valor por 100 temos 1,8%. Ou seja, 9,6 g representa 1,8% de 527,8 g. Da mesma forma, no peneiramento da segunda amostra (segunda determinação) temos 8,4 g de material retidos na peneira 4,8 mm. Dividindo 8,4 g pelo peso total da amostra, que é 524,8 g, temos 0,016 e multiplicando esse valor por 100 temos 1,6%. Ou seja, 8,4 g representa 1,6% de 524,8 g.

Fazendo o mesmo cálculo para os pesos retidos nas demais peneiras, nas duas determinações, temos:

COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR 7217

Peneiras

1ª Determinação

2ª Determinação

% Retida Média

% Retida Acumulada

mm

Peso Retido (g)

% Retida

Peso Retido (g)

% Retida

3/8"

9,5

0

 0,0%

0

 0,0%  

 

 

 

1/4"

6,3

0

0,0%

0

0,0%

 

 

 

4

4,8

9,6

 1,8% 

8,4

1,6% 

 

 

 

8

2,4

16,6

 3,1%

15,1

 2,9%

 

 

 

16

1,2

31,7

 6,0%

28,9

 5,5%

 

 

 

30

0,6

132,8

 25,2%

147,7

 28,1%

 

 

 

50

0,3

234,1

 44,3%

242,9

 46,3%

 

 

 

100

0,15

79,4

 15,0%

63,4

 12,1%

 

 

 

Fundo

<0,15

23,6

 4,5%

18,4

 3,5%

 

 

 

TOTAL

 527,8

 99,9%

 524,8

 100%

 

 

 

Em alguns casos, como consequência do arredondamento de 1 casa decimal, o somatário das porcentagens difere de 100%, ficando próximo a esse valor, como ocorreu na 1ª determinação do exemplo.

Após determinar as porcentagens retidas em cada determinação, procede-se ao cálculo da porcentagem média retida em cada peneira. Voltando ao nosso exemplo: na primeira determinação 1,8% da amostra ficou retida na peneira 4,8mm e na segunda determinação a porcentagem retida foi de 1,6% na mesma peneira. Neste caso a porcentagem retida média na peneira 4,8 é a soma de 1,8% e 1,6% dividida por 2, o que resulta 1,7%. Como na porcentagem retida média a Norma aconselha o cálculo com aproximação de 1%, não se usam casas decimais após a vírgula e o valor de 1,7% é arredondado para 2%. Calculando a média das porcentagens de material retidas nas demais peneiras temos:

COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR 7217

Peneiras

1ª Determinação

2ª Determinação

% Retida Média

% Retida Acumulada

mm

Peso Retido (g)

% Retida

Peso Retido (g)

% Retida

3/8"

9,5

0

 0,0%

0

 0,0%  

0% 

 

 

1/4"

6,3

0

0,0%

0

0,0%

0%

 

 

4

4,8

9,6

1,8%

8,4

1,6% 

2%

 

 

8

2,4

16,6

 3,1%

15,1

2,9%

3%

 

 

16

1,2

31,7

 6,0%

28,9

5,5%

6%

 

 

30

0,6

132,8

 25,2%

147,7

28,1%

27%

 

 

50

0,3

234,1

 44,3%

242,9

46,3%

45%

 

 

100

0,15

79,4

 15,0%

63,4

12,1%

13%

 

 

Fundo

<0,15

23,6

 4,5%

18,4

3,5%

4%

 

 

TOTAL

527,8

99,9%

524,8

100%

100%

 

 

Para finalizar, calcula-se a porcentagem retida acumulada, que é a soma das porcentagens retidas médias que estão acima da peneira que se está analisando. Assim, na peneira 4,8m, temos retido 2% do material pois nas peneiras que estão acima da 4,8 mm (a 6,3 e a 9,5) não temos material retido. Já na peneira 2,4 mm teremos o acumulado de 5%, sendo 3% na própria peneira 2,4mm e 2% na peneira 4,8 mm que está acima da 2,4 mm. Seguindo esta lógica, na peneira 1,2 mm teremos acumulado 11% do material, sendo 6% na própria peneira 1,2mm e 5% nas peneiras acima desta (3% na peneira 2,4mm e 2% na peneira 4,8mm). O cálculo da porcentagem retida acumulada é feito até a peneira 0,15 mm, sendo que o material retido no Fundo fica de fora desse cálculo.

COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR 7217

Peneiras

1ª Determinação

2ª Determinação

% Retida Média

% Retida Acumulada

mm

Peso Retido (g)

% Retida

Peso Retido (g)

% Retida

3/8"

9,5

0

0,0%

0

0,0%

0%

0%

 

1/4"

6,3

0

0,0%

0

0,0%

0%

 

0%

4

4,8

9,6

1,8%

8,4

1,6%

2%

2%

 

8

2,4

16,6

3,1%

15,1

 2,9%

3%

 5%

 

16

1,2

31,7

6,0%

28,9

5,5%

6%

11%

 

30

0,6

132,8

25,2%

147,7

28,1%

27%

38%

 

50

0,3

234,1

44,3%

242,9

46,3%

45%

83%

 

100

0,15

79,4

15,0%

63,4

12,1%

13%

 96%

 

Fundo

<0,15

23,6

4,5%

18,4

3,5%

4%

 

 

TOTAL

527,8

99,9%

524,8

100%

100%

 

 

Os cálculos realizados na análise granulométrica tem diferentes finalidades. Uma delas é a comparação da distribuição granulométrica do agregado analisado com a distribuição granulométrica determinada por normas específicas para cada uso. A NBR 7211, que trata dos requisitos mínimos dos agregados miúdos para concreto, apresenta os limites da distribuição granulométrica que o agregado míudo deve ter para ser apropriado a esse uso.

Peneira com Abertura de Malha

Porcentagem, em massa, retida acumulada

Limite Inferior

Limite Superior

Zona Utilizável

Zona Ótima

Zona Utilizável

Zona Ótima

9,5 mm

0

0

0

0

6,3 mm

0

0

0

7

4,75 mm

0

0

5

10

2,36 mm

0

10

20

25

1,18 mm

5

20

30

50

600 mm

15

35

55

70

300 mm

50

65

85

95

150 mm

85

90

95

100

Como veremos a seguir, os cálculos realizados na análise granulométrica também servem de subsídio para determinar duas outras propriedades dos agregados: a dimensão máxima do agregado e o módulo de finura.