Noções de Papéis e Status Sociais nas Relações de Trabalho
A noção de status sociais está ancorada na concepção geográfica de estratos, ou camadas. Assim como são observáveis camadas na atmosfera ou no solo terrestre, também se consegue, sob o olhar dos cientistas sociais, perceber que existem nas sociedades camadas de grupos que se diferenciam entre si, estabelecendo relações e comportamentos próprios. A essa diferenciação interna das sociedades chamamos de status social. Algumas sociedades ainda hoje mantêm rígidos sistemas de relações entre os diferentes status que compõem a sociedade, caso este verificado nas sociedades estamentais, como a sociedade hinduísta indiana.
Os diferentes status sociais geralmente são reconhecidos na sociedade e indicam determinados valores, direitos e deveres daqueles que ocupam determinadas posições na sociedade. A formação dos diferentes status comumente dá-se a partir de alguns processos relacionados à divisão social do trabalho. Quando se estabelece uma relação entre algumas pessoas e grupos de pessoas e determinadas ocupações, estabelecem-se alguns princípios de consolidação de status social diferenciado.
“O status social valoriza e distingue os membros de um grupo social, dispondo-os numa escala cujas posições estabelecem entre as pessoas relações de dominação, subordinação e dependência. Assim, essa forma de distinção passa a ter uma participação fundamental no comportamento dos indivíduos, bem como nas relações que esses mantêm entre si” (COSTA, 2005, p.407).
As sociedades contemporâneas ocidentais ainda apresentam alguns grupos que representam as noções de status social e sua estratificação. No entanto, diferente de, por exemplo, a sociedade ocidental medieval, há a possibilidade por parte dos indivíduos de trocarem de status ao longo de uma vida. A Europa medieval apresentava uma clara distinção entre grupos de status, nobreza, clero e servos. O nascimento em um desses estamentos sociais determinava as chances de trabalho e vida das pessoas. Ou seja, os status sociais eram determinantes sobre o trabalho e as profissões muito antes das disposições e interesses individuais. A ordem à qual pertencêssemos determinava nossa posição nas relações de trabalho. Nas palavras da autora:
“É o status que define numa determinada estrutura social a posição que cada indivíduo ocupa na hierarquia de papéis sociais estabelecidos. Comumente chamado de posição social, o status é um elemento comparativo entre os membros de uma comunidade ou de uma instituição, definindo a distribuição de normas, deveres, direitos e privilégios para cada um de seus integrantes” (COSTA, 2005, p.407).
O ocidente vivenciou ao longo da segunda metade do segundo milênio um intenso processo de transformações econômicas e sociais. Dentre as muitas mudanças em que ocorre a eliminação dos status sociais baseados no nascimento foi uma das mais significativas, pois deram abertura para ideais de igualdade e liberdade dos indivíduos. Uma vez livres das definições de status sociais baseados no nascimento, passaram os indivíduos a almejar diferentes formas de garantir sua sobrevivência. O próprio trabalho passou a ser associado a noções de aptidão e talento que podem ser desenvolvidos.
Essa mudança, no entanto, não eliminou o fato de que determinadas funções ou profissões ainda hoje carregam consigo um conjunto de características próprias. A essas características chamamos de papel social. Cada função dentro de um grupo ou instituição carrega consigo algumas responsabilidades que envolvem mais do que a simples realização de um trabalho, mas requer comportamento apropriado, vestimenta, fala, entre outras exigências. Segundo Costa:
Papel social é o conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que envolvem uma pessoa no desempenho de uma função junto a um grupo ou dentro de uma instituição. Esse conceito tem sua origem no teatro, quando as características e as falas de um determinado personagem em uma dada situação dramática são definidas (COSTA, 2005, p.403).
Compreender o conjunto de normas, direitos e deveres que desempenha determinada função em diferentes sociedades permite identificar papéis que se assemelham, da mesma forma que a identificação de diferentes papéis permite que sejam analisadas suas diferenças nesses mesmos termos. No exercício de um papel social ficam minimizadas as características individuais. Os papéis cumprem uma função universalizante dos modos de agir, ajudam a orientar as ações sociais, baseando-se na correspondência entre papel e função.
Fonte: COSTA, Maria C. C. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.