Percepção Social, Comiunicação e Expressão
A percepção social é aquela que diz respeito às informações que captamos da realidade que nos cerca sobre os outros que nos rodeiam. Essa percepção vale-se especialmente dos estereótipos sociais de que dispomos a partir de crenças partilhadas ou experiências anteriores. O que vemos, ao enxergar outra pessoa, remete a uma organização dos conhecimentos que detemos sobre aquela pessoa e outras que se assemelham. Bock nos dá o seguinte exemplo para entender essa relação:
Assim, se você estiver vestindo calça jeans, camiseta, tênis e com cadernos e livros nas mãos, a sua aparência nos permitirá percebê-lo como um estudante. E nós, com o dobro da sua idade e um estilo semelhante de se vestir, seremos categorizados como professores (BOCK, 2008, p.180).
Para a percepção social, consideramos também a noção de comunicação. Também comunicamos na forma de vestir. Portanto, a percepção de alguém sobre nós pode ser alterada por aquilo que comunicamos com nosso modo de vestir e/ou comportar-se. Toda comunicação envolve um processo de codificação e decodificação de símbolos culturais. Podemos sistematizar a análise desse processo, separando as dimensões do transmissor, da mensagem e do receptor.
As relações estabelecidas por processos de comunicação correspondem às necessidades humanas de interação. Elas contribuem para a construção e ordenamento do mundo em que vivemos. De acordo com Davidoff, “se você vivesse sozinho, provavelmente falaria muito menos do que fala. Muito do que as pessoas falam é por razões sociais: para compartilhar informações e ideias” (DAVIDOFF, 2001, p.263).
O compartilhamento de informações e ideias é base sobre a qual se apoia nossas percepções sobre nós e os outros. Determinada maneira de falar ou conteúdos que dispomos para comunicar denunciam nossa situação social, classe, crenças e valores. A plena compreensão dessas dimensões, ou sua percepção, depende de relações duradouras entre um transmissor e receptor.
A complexidade dessa relação entre um transmissor e um receptador é tamanha que se trata praticamente de relações exclusivas e únicas entre os indivíduos. Isso se dá porque no processo de comunicação age uma das principais características do processo de comunicação, o exercício da criatividade. Isso não quer dizer que cada um de nós estamos constantemente buscando falar e construir frases diferentes, mas que elas ocorrem sem a necessidade de algum esforço de nossa parte. Segundo Davidoff:
“Não é rara a necessidade de criar frases [...] Isso é comum. Constantemente é necessário dizer às coisas que uma pessoa jamais ouviu precisamente na forma requerida e não é incomum a necessidade de dizer alguma coisa que pessoa alguma que fala a língua jamais disse” Quando dizemos que a linguagem é criativa, queremos dizer que a maioria das sentenças é nova. Ao analisar 20.000 sentenças proferidas espontaneamente, James Deese (1984) descobriu que quase todas elas representavam isoladamente algum padrão gramatical exclusivo (DAVIDOFF, 2001, p.264).
A multiplicidade de formas de se comunicar decorrentes da dimensão criativa da linguagem possibilita percepções variadas sobre o que se diz e por quem é dito. A valorização da escrita na nossa sociedade é reflexo desse processo, na medida em que determinadas regulações precisam estar devidamente registradas, livres na medida do possível de alterações provindas da criatividade do processo de comunicação. Ainda assim, existem possibilidades de interpretações discordantes a respeito do sentido expresso nos textos.
A partir da percepção orientada pelos primeiros contatos estabelecidos pela comunicação visual e auditiva de alguém ou alguma coisa reunimos informações suficientes que implicarão sobre nossas atitudes. As atitudes são aquelas crenças, valores e opiniões que desenvolvemos a respeito do mundo e das pessoas.
As atitudes possibilitam-nos certa regularidade na relação com o meio. Temos atitudes positivas em relação a determinados objetos ou pessoas, o que nos predispõe a uma ação favorável em relação a eles. Isso porque os componentes da atitude – informações, afeto e predisposição para a ação – tendem a ser congruentes (BOCK, 2008, p.181).
Toda atitude que desenvolvemos a respeito de algo ou alguém pode também ser modificada. Novas informações percebidas (considerando os fatores que compõem a percepção) podem alterar nossas atitudes. A mudança de atitude pode tanto implicar a formação de um afeto positivo como negativo. O fundamental desse processo de construção de atitudes é entender sua formação. Sendo as atitudes atreladas às crenças, valores e opiniões, devemos considerar a que relações devemos boa parte dessas orientações. Segundo Bock:
A formação do conjunto de nossas crenças, valores e significações, se dão no processo que a psicologia social denominou socialização. Nesse processo, o indivíduo torna-se membro de determinado conjunto social, aprendendo seus códigos, suas normas e regras básicas de relacionamento, apropriando-se dos conhecimentos já sistematizados e acumulados por esse conjunto (BOCK, 2008, p.181).
O ambiente de trabalho é parte desse processo de socialização. Conforme vimos anteriormente, as modificações no ambiente de trabalho implicavam mudanças também nos trabalhadores. Ou seja, aquilo que era percebido nas relações de trabalho nas indústrias e fábricas acabava por alterar as atitudes dos trabalhadores. Lembrando a introdução do modelo fordista e a “fordização da face” podemos dizer que os processos de percepção e atitude também podem sofrer mudanças no ambiente de trabalho.
Fonte:
BOCK, A.M. Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Person Makron Books, 2001.