Unidade E - A psicologia nas relações humanas e no trabalho

A Psicologia nas Relações Humanas e no Trabalho

A psicologia, assim como a sociologia, também se debruçou sobre as relações de trabalho para entender as mudanças provocadas pelo desenvolvimento do capitalismo. As transformações provocadas pela introdução do controle dos tempos e movimentos e da linha de produção implicaram questões de interesse dos psicólogos em descobrir como se relacionavam esses operários com as novas condições de trabalho. A princípio, os interesses da psicologia restringiam-se em aplicar processos de seleção e colocação de candidatos a emprego. Um dos principais expoentes dessa vertente da psicologia do trabalho era Hugo Münsterberg. O seu livro Psychology and industrial efficiency publicado em 1913, foi considerado um sucesso de vendas.

No seu livro, Münsterberg defendia que a eficiência no trabalho, a produtividade e a satisfação eram decorrentes da correta seleção dos trabalhadores mais aptos por suas características mentais e emocionais às respectivas e adequadas funções. Um dos aspectos polêmicos considerados alvo de pesquisas por Hugo foram as conversas nos ambientes de trabalho. Em seu trabalho afirmava que as conversas prejudicavam o rendimento e a produção dos trabalhadores. Em suas conclusões, porém, não aconselhava a proibição das conversas, mas a organização do ambiente de trabalho a fim de dificultá-las.

A partir do final da década de 1920 e início de 1930, os Estudos Hawthorne deram novos rumos aos estudos da psicologia das relações humanas no trabalho. Segundo Schultz:

“(...) programa de pesquisa inovador conduzido pela Western Electric Company, na fábrica de Hawthorne, em Illinois (Roethlisberger e Dickson, 1939). Esses estudos ultrapassam o limite da seleção e da colocação de pessoal, abordando problemas mais complexos das relações humanas como a motivação e o moral” (SCHULTZ, 2011, p.216).

O trabalho de pesquisa realizado em Hawthorne tinha por objetivo inicial de avaliar o impacto das condições de trabalho sobre a eficiência dos trabalhadores. Os estudos avançaram para além dos aspectos relacionados às condições física dos ambientes para abordar também questões relacionadas a aspectos sociais e psicológicos. As principais descobertas das pesquisas realizadas em Illinois indicaram “que os aspectos sociais e psicológicos do local de trabalho eram muito mais importantes do que as condições físicas” (SCHULTZ, 2011, p.216).

Uma descoberta interessante relatada pelo grupo de pesquisa é sobre o simples fato de serem escutados, entrevistados e analisados, tornavam os trabalhadores mais dóceis e “ajustados” aos seus ambientes de trabalho. Esse conhecimento incentivou pesquisas na área da psicologia com o foco em questões relacionadas a aspectos sociais e psicológicos. Alguns temas que foram desenvolvidos a partir desses estudos estiveram relacionados ao “comportamento da liderança, formação de grupos informais de trabalho, às atitudes dos funcionários, aos padrões de comunicação entre subordinados e seus superiores, além de outros fatores capazes de influenciar a motivação, a produtividade e a satisfação” (SCHULTZ, 2009, p.216).

A organização das empresas orientadas pelo modelo fordista, com sua linha de montagem provocava altos índices de rotatividade de trabalhadores, fenômeno conhecido por Turn-over. Combater as consequências das transformações das relações de trabalho também passou a ser preocupação dos psicólogos industriais e organizacionais. Outros aspectos também passaram a ser objeto de estudos dos psicólogos organizacionais, especialmente os problemas decorrentes das relações de trabalho como síndrome de Burnout, LER, Dort e assédio moral.

De acordo com Bock (2008), a síndrome de Burnout refere-se ao esgotamento nervoso comum em profissionais que lidam constantemente com outras pessoas em suas atividades, sendo causado por situações de stress e de difícil identificação. Já a LER, ou Lesão por Esforço Repetitivo, e Dort (Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) são característicos das demandas de trabalho atuais, relacionadas ao uso de mouses e teclados, comuns em atividades de escritório. Outro aspecto de difícil identificação e combate é o assédio moral, que se caracteriza pela pressão de colegas e chefes sobre o trabalhador, com o intuito de diminuir suas capacidades de trabalho, levando muitas vezes à síndrome de Burnout.

Além do combate às doenças do trabalho relacionadas a questões sócio-psicológicas, os psicólogos organizacionais têm se dedicado nas recentes transformações da sociedade na virada do século XX para o século XXI, sobre questões educacionais de desenvolvimento do quadro de pessoas das organizações. Nas palavras de Bock, “o antigo papel do psicólogo aplicador de testes, para identificar o perfil adequado para a função a ser desempenhada, foi transformado na função de um gestor de pessoas, que se preocupam com a escolha profissional, com o processo de decisões, com a formação do trabalhador” (BOCK, 2008, p.259).

Fonte:
BOCK, A.M. Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.
SCHULTZ, Duane, P. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2011.