Unidade F - Estereótipos, atitudes e obediência

Estereótipos, Atitudes e Obediência

Algumas implicações do comportamento humano nas empresas têm relação com o que entendemos por estereótipos, atitudes e obediência. Diferenciar o que são é um passo importante para compreender certos padrões de comportamentos que temos ou que outros têm no ambiente de trabalho.

As atitudes “dizem respeito a objetos, grupos, eventos e símbolos socialmente significativos” (DAVIDOFF, 2001, p.645 - 646). Nossas noções sobre o que é bom ou ruim, ou nossas percepções sobre determinadas ações relativas a comportamentos sociais constituem o que se considera por atitude na psicologia. Ou seja, toda opinião que tenha alguma implicação social é considerada uma atitude. Por exemplo, considerar que as pessoas são mais saudáveis se frequentarem uma igreja, é uma atitude baseada em uma crença. “Nossas atitudes são aprendidas. As pessoas não vêm ao mundo com elas. Ao mesmo tempo, as atitudes são relativamente persistentes – permanecem conosco por longos períodos” (DAVIDOFF, 2001, p.646).

Quando uma atitude em particular “apoia-se em um componente de pensamento relativamente simples e rígido e diz respeito a pessoas ou grupos sociais, é chamada estereótipo” (DAVIDOFF, 2001, p.646). Comumente associamos a ideia de estereótipos com uma conotação negativa. No entanto, são os estereótipos que nos auxiliam a lidar com diferentes pessoas sem a necessidade de conhecer a todos individualmente. Por esse motivo, o uso de uma associação simples e direta sobre determinadas pessoas ou grupos podem ser úteis nas relações cotidianas. Nas palavras de Davidoff:

“os estereótipos organizam e condensam informações, de modo que possamos agir de maneira inteligente e rápida. Para sobrevivermos, precisamos ter bons critérios que nos permitam identificar em quem podemos confiar e quem devemos temer” (DAVIDOFF, 2001, p.647).

A utilidade do uso de estereótipos torna-se prejudicial, quando as generalizações feitas sobre determinado grupo são levadas em consideração como uma regra geral ou inquestionável. Nesse ponto, tem-se o desenvolvimento de um estereótipo no sentido pejorativo, associado a noções como preconceito e discriminação. Segundo a autora, “os estereótipos são destrutivos basicamente quando nos esquecemos de que se baseiam em pequenas amostras e com frequência são injustos, quando aplicados rotineiramente a todos os indivíduos de uma população” (DAVIDOFF, 2001, p.646). Certas atitudes associadas a determinados estereótipos podem constituir-se em preconceitos.

“Um preconceito é uma atitude que transmite sentimentos negativos (ou positivos) sobre uma pessoa ou grupo de pessoas, com base em um estereótipo, uma crença que exagera as características de grupo. Frequentemente, os preconceitos são ligados à discriminação, conduta tendenciosa contra (ou a favor de) uma pessoa ou grupo, pelo fato de participar do grupo, e não por méritos individuais” (DAVIDOFF, 2001, p.647).

Identificar e prevenir dentro das empresas o uso de estereótipos destrutivos pode ser uma tarefa essencial para a garantia de um ambiente de trabalho com um menor índice de conflitos. Uma questão que se coloca é como as pessoas adquirem uma determinada atitude em relação a algo ou alguém. A forma mais direta de obter-se uma atitude é a experiência direta de cada um. Um evento que ocorra conosco com determinado ser ou objeto podem imprimir determinadas crenças que podem acabar por serem generalizadas a outros seres ou objetos. Alguém que tenha conhecido um cachorro de determinada raça e este o tenha mordido, pode acabar por associar aquela raça a um comportamento violento. Essa associação pode não ser verdadeira para todos os cães daquela raça, mas nossa mente acaba por construir essas referências como forma de proteção.

Outra maneira de se adquirir uma determinada atitude é através de um processo de aprendizagem por observação. Podemos adquirir determinada atitude observando as pessoas que nos rodeiam, tendo um papel mais ativo nessa formação, aquelas pessoas que prezamos (familiares, amigos e colegas de trabalho). Isso não significa que pessoas estranhas não possam interferir também em nossas atitudes, a aprovação ou reprovação delas interferem nessa construção. Muitas vezes acreditamos que o que gostamos ou não gostamos são atitudes construídas baseadas em experiências e informações de que dispomos. Algumas pesquisas de psicologia (Robert Zajonc, Grush e Rheingold) “mostram que, quanto mais contato as pessoas têm com algum objeto ou pessoa, mais afeição elas sentem pelo objeto ou pessoa. A mera exposição é uma influência muito potente nas atitudes, quando faltam informações” (DAVIDOFF, 2001, p. 648).

De qualquer modo, nossas atitudes não são imutáveis. Há pelo menos duas formas de se promover mudanças de atitudes. Uma primeira forma dá-se através da natureza cognitiva. Isto é, através da argumentação e uso da razão, uma nova atitude pode ser sugerida e adotada pelas pessoas. “Quando as questões são importantes para as pessoas, elas examinam atentamente a mensagem. Relacionamos o conteúdo ao que já conhecemos e então avaliamos racionalmente nossa posição” (DAVIDOFF, 2001, p. 648). Outra forma de se mudar determinadas atitudes dá-se através do sentir, caso haja algum retorno ou satisfação que requeira uma mudança de atitude sobre uma questão simples ou trivial, tendemos a modificar nossa atitude. No entanto, costuma ser temporária essa mudança.

Para a mudança de atitude é possível observar algumas influências, como a comunicação (clareza), a audiência e a fonte de persuasão. A clareza de determinada comunicação pode influenciar a mudança de atitude nas pessoas. O uso de frases simples, claras e diretas facilita a compreensão. Isso acaba por aumentar o poder persuasivo da comunicação. O segundo fator é a própria audiência da comunicação. Uma audiência não-receptiva ou hostil será menos sugestiva a uma mudança de atitude. Nesse caso são necessárias outras formas de aproximação para estabelecer-se um processo de comunicação que resulte na mudança de atitude. Em geral, utiliza-se para casos assim técnicas como a de avançar nas solicitações das mais simples às mais complexas. Por último, deve-se considerar na mudança de atitude a fonte de persuasão.

Quem emite a mensagem com a intenção de provocar uma mudança na atitude de outros é também um fator de influência (para a mudança ou resistência a ela). De acordo com Davidoff:

“A fonte da mensagem desempenha um papel importante na mudança de atitude, principalmente quando as pessoas não estão altamente motivadas para processar informações (Eagly, 1983). Duas qualidade diferentes parecem tornar o emissor da mensagem altamente digno de crédito: a experiência ou a semelhança com a audiência” (DAVIDOFF, 2001, p.650).

A confiança que a audiência deposita no emissor da mensagem também é muito importante. A credibilidade pode, num primeiro momento, ser questionada, mas com o passar do tempo, pode-se ignorar as preocupações com a credibilidade e atentar-se para o conteúdo da mensagem somente. Uma vez que estabelece essa relação de confiança, as chances de um emissor imprimir mudanças de atitude sobre uma platéia/audiência aumentam. Essa dimensão da credibilidade apesar de não ser determinante tem grande impacto sobre a recepção de mensagens e sua assimilação, estando inclusive presente de forma significativa em questões relativas à obediência.

Por obediência, podemos entender como o processo no qual “as pessoas, abandonam os julgamentos pessoais e cooperam com as autoridades. (...) Há submissão diante de pressões externas” (DAVIDOFF, 2001, p.643). De acordo com os resultados de uma pesquisa conduzida por Stanley Milgram, “a explicação (...) foi de que as pessoas supunham que autoridades legítimas precisam ser obedecidas, simplesmente em decorrência do treino que tiveram na infância (DAVIDOFF, 2001, p.644). Sob a coerção de pessoas que entendemos deter posições de autoridade tendemos a seguir suas instruções, mesmo que contrariem nossos julgamentos individuais e morais de certo e errado, pelo simples fato de considerarmos que estávamos cumprindo ordens. Cabe a nós sempre levarmos em conta essa questão, para que possamos fazer julgamentos claros sobre nossas ações e as ações que a nós são demandadas.

Fonte:

DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Person Makron Books, 2001.