A remoção de nutrientes em sistemas naturais prevê a utilização de lagoas de estabilização, banhados construídos ou wetlands ou aplicação ao solo. A discussão de sistemas de lagoas já foi realizada anteriormente, portanto, a seguir serão apresentados os fundamentos da remoção de N e P em sistemas do tipo Wetlands.
Wetlands é o termo mais utilizado para estes sistemas de tratamento. São sistemas de transição entre sistemas aquáticos e sistemas terrestres, onde o nível d’água comumente está próximo ou na superfície da terra.
Existem dois tipos de sistemas de tratamento de efluentes com utilização de plantas aquáticas:
A tecnologia utilizada nos Wetlands é totalmente diferente dos sistemas que preconizam a utilização dos aguapés (Eichornia spp.), em lagoas de tratamento. A utilização de aguapés nunca alcançou os resultados desejados e a formação de biomassa em excesso sempre foi o ponto negativo deste tratamento.
Os sistemas de tratamento que utilizam macrófitas aquáticas emergentes apresentam um grande potencial para serem utilizados no tratamento de efluentes industriais, domésticos e de atividades agrícolas, visando à remoção de cor, sólidos suspensos, nitrogênio, fósforo, material orgânico, metais, patogênicos entre outros parâmetros.
Existem diversas denominações para esse sistema de tratamento;
Tipos de sistemas
Existem dois grandes sistemas tratamento que utilizam plantas aquáticas emergentes:
No Brasil, a preferência é pelo uso de sistemas de Fluxo Sub-Superficial (FSS), que podem ser divididos em dois tipos:
Existe ainda o chamado Sistema Combinado ou Híbrido, que consiste na utilização conjunta dos Sistemas de Fluxo Horizontal e de Fluxo Vertical, porém, construídos em células diferentes do mesmo sistema de tratamento.
Na rizosfera, ao redor das raízes e dos rizomas das plantas, é formada uma zona aeróbia. Nesta zona, existe uma intensa vida microbiológica, favorecida pela capacidade de transporte do oxigênio atmosférico pelas plantas emergentes, por suas folhas, caules e hastes, até a zona de raízes. É nesta zona que ocorre a oxidação da matéria orgânica pelas bactérias heterotróficas, a oxidação do nitrogênio amoniacal a nitrito e a nitrato pelas bactérias autotróficas e a volatilização da amônia.
Na zona anóxica, ocorre a transformação do nitrato a nitrogênio gasoso, pelas bactérias heterotróficas e a oxidação da matéria orgânica, utilizando o nitrato como receptor de elétrons.
A zona anaeróbia, os índices de remoção de DBO são alcançados devido à alta capacidade de decomposição das bactérias anaeróbias.
Este procedimento de inundação intermitente conduz a uma boa transferência de oxigênio. As bactérias responsáveis pela remoção de DBO e pela nitrificação estão presentes em todas as camadas do leito. Como nos SFH, as macrófitas também transferem oxigênio para a rizosfera, mas esta transferência é pequena, quando comparada à transferência obtida no sistema SFV.
Fatores de influência
Os principais fatores de influência em sistemas de tratamento tipo wetlands são:
A interação desses fatores é que determina a eficiência de remoção de poluentes específicos. A seguir serão comentados alguns detalhes importantes de cada um desses fatores de influência.
Um estudo hidrológico compreende a avaliação do fluxo interno de água superficial, precipitação, fluxo interno da água no solo, evapotranspiração, fluxo externo de água superficial e infiltrações. O hidroperíodo, além de influenciar as propriedades das macrófitas, é considerado também como fator selecionador de espécies, afetando diretamente a sua distribuição espacial e temporal.
O Regime Hidrológico é influenciado por
A constituição da camada suporte é fundamental para a construção do sistema com macrófitas emergentes. O tipo e a textura das camadas afetam física, química e biologicamente os mecanismos de remoção dos constituintes do efluente. Em Sistema de Fluxo Sub-superficial (FSS), comumente são utilizados seixos, brita e areia como camada suporte.
As propriedades desejadas dos constituintes da camada suporte são:
A vegetação, denominada de macrófitas emergentes, possui papel determinante na remoção dos constituintes do efluente. A sua principal característica é captar oxigênio da atmosfera, através de suas folhas e hastes, e o transportar para a zona de raízes.
Macrófitas aquáticas emergentes são plantas que projetam suas raízes no interior do solo e mantêm suas principais superfícies fotossintéticas projetadas acima do nível d’água, permanentemente ou na maior parte do tempo. Possuem um tecido de sustentação muito mais resistente do que as macrófitas flutuantes, por isso, possuem uma maior capacidade de remoção e retenção de nutrientes.
As macrófitas aquáticas emergentes mais utilizadas em sistemas de tratamento na Europa e Estados Unidos incluem os gêneros Typha, Phragmites e Scirpus. No Brasil, a preferência por juncos (Scirpus sp) e taboas (Typha sp), entretanto, existem muitas espécies de plantas com potencial para utilização nesses sistemas.
No RS, a riqueza de espécies é grande, mas poucas são aquelas que têm eficiência de remoção comprovada. A Figura 22 apresenta a relação de macrófitas de maior ocorrência na planície costeira do Estado.
FamÍlia |
Nome CientÍfico |
Nome vulgar |
Alismataceae |
Sagitaria lancifolia |
Sagitária |
Echinodorus grandiflorus |
Chapéu de Couro |
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Cannaceae |
Canna glauca |
Caeté |
Chenopodiaceal |
Atriplex montevidensis |
Atriplex |
Cyperaceae |
Scirpus californicus |
Junco |
Eleocharis Interstincta |
Tiririca |
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Cypereus giganteus |
Tiriricão |
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Conmbinaceae |
Floscopa glabrata |
Trapociraba |
Euphorbiaceae |
Sebastiania schottiana |
Sarandi Vermelho |
Phyllanthus sellowianus |
Sarandi Branco |
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Typhaceae |
Typha subulata |
Taboa |
Typha domingensis |
Taboa |
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Typha latifolia |
Taboa |
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Poaceae |
Zizaniopsis bonariensis |
Espadana |
Fonte: Adaptado de Macrófitas Aquáticas da Planície Costeira do RS Irgang & Gastal, 1996
Mecanismo de remoção
Considerando as características das macrófitas emergentes e a profundidade da lagoa, poderão ser observadas 3 zonas distintas:
Nos sistemas que utilizam macrófitas emergentes podem ser observados vários mecanismos de remoção envolvidos, dependendo do tipo de contaminante a ser removido. A tabela a seguir apresenta, resumidamente, os mecanismos de remoção dos principais parâmetros de monitoramento.
ParÂmetro |
Mecanismo de RemoÇÃo |
Sólidos Suspensos Totais |
Sedimentação/Filtração |
DBO |
Degradação microbiológica (anaeróbia e aeróbia) |
Nitrogênio |
Nitrificação/Denitrificação |
Fósforo |
Imobilização (reações de adsorção – precipitação com alumínio, ferro, cálcio, outros minerais do solo. |
Patogênicos |
Sedimentação/Filtração |
Fonte: WEF, 1994